Home

 

 

 

 

Angra Jazz 2023

 

Antecipação 3 de Outubro de 2023

 


O AngraJazz regressa como um dos mais importantes, consistentes e longevos festivais de jazz portugueses, de acordo com uma fórmula que combina criteriosamente grupos e músicos internacionais e nacionais. Seis concertos apenas: Orquestra Angrajazz com Jeffery Davis, Renee Rosnes Quintet, Ben Allison Trio, Coreto Porta-Jazz, Immanuel Wilkins Quartet e Vivian Buczek Group, de 4 a 7 de Outubro em Angra do Heroísmo.

Sobre a Orquestra Angra Jazz, a «menina dos olhos» da Associação AngraJazz que organiza o festival, o menos que haverá a dizer é que é ela é um fenómeno de improbabilidade e resistência, superando as adversidades da insularidade. E pur si muove! E no entanto ela vive!, e no entanto ela persiste, contra ventos e marés, tempestades e anticiclones, teimosa e generosa.
À semelhança de outros anos, a Orquestra tem como convidado, em 2023, o vibrafonista, compositor, líder e professor Jeffery Davis, um desafio que os músicos superarão.

A primeira noite termina com o quinteto da pianista Renee Rosnes, uma pianista com provas dadas e uma longa história de projectos bem sucedidos – 17 álbuns! – e encontros com a nata do Jazz. Canadiana de origem (de onde são também Oscar Peterson e Paul Bley), Rosnes mudou-se para New York onde começou a tocar na banda de Joe Henderson, com vinte e quatro anos. A partir daí ela tornou-se numa das mais requisitadas pianistas de Jazz, tendo tocado com Ron Carter, Billy Drummond, Tony Bennett, Greg Osby, Niels-Henning Ørsted Pedersen, entre inúmeros outros, e foi durante cinco anos a pianista de serviço da SFJAZZ Collective. Editou este ano o segundo disco da Artemis, In Real Time, uma banda feminina onde tocam também Noriko Ueda, Allison Miller, Ingrid Jensen, Nicole Glover e Alexa Tarantino; e para que contribuiu com as composições e direcção.
Sólida, fluente e enciclopédica, Renee Rosnes vem a Angra com uma banda de luxo:  Steve Wilson e Nicole Glover nos saxofones, Peter Washington no baixo e Carl Allen na bateria.

A segunda noite abre com o trio do contrabaixista Ben Allison, com Steve Cardenas na guitarra e Ted Nash em saxofones e clarinete; uma formação que evoca o Jazz singular do trio de Jimmy Giuffre dos anos 50 e 60 do século passado. É um trio de amigos, músicos que se conhecem há décadas (e já passaram até por Angra em formações diferentes), e que vêm emprestando a singularidade desta forma a projectos e cancioneiros alheios, como foi o Somewhere Else – West Side Story Songs de 2019 (um olhar sobre o West Side Story, como o nome sugere) ou Healing Power – The Music of Carla Bley, dedicado à compositora e pianista.Música intimista, mas pródiga, fecunda e única, a música de Carla Bley, pela mão de três grandes músicos, dará lugar ao segundo concerto da noite.

O Coreto é uma das mais importantes alargadas formações nacionais. Dirigido por João Pedro Brandão, o Coreto é um dodecateto de oito sopros e secção rítmica que prima pela inquietude, que começa no repertório original, e prossegue no atipicismo dos arranjos, com combinações instrumentais singulares. «Modernidade, erudição, engenho, … música cheia, séria, convicta, sem hesitações e sem concessões», «no equilíbrio instável entre composição e improvisação», escrevi a propósito de Analog, disco de 2017. E, enfim, com João Pedro Brandão está a nata do Jazz do Norte, que é o mesmo que dizer a nata do Jazz nacional.

E enfim, para a última noite estão reservados o Jazz portentoso e inequívoco do jovem Immanuel Wilkins e a voz da cantora Vivian Buczek.
Estrela em ascensão fulgurante, Imanuel Wilkins (e recorrendo de novo às minhas notas) surpreende pela maturidade como saxofonista e como compositor. Wilkins é um saxofonista completo, ágil nos tempos rápidos, denso e emocionante nas baladas. Coltrane, Charlie Parker e Ornette, passando por Wayne Shorter estão lá, mas o som que retira é um híbrido bastante personalizado: a tradição e o futuro num único solo.

Enfim, para o fim da noite o Angra jazz programou uma voz, como vem sendo hábito, e de forma a satisfazer os apreciadores do Jazz vocal. Vivian Buczek é uma cantora (de que conheço apenas os discos) sueca de ascendência polaca, com seis discos editados, com um percurso de interpretação de standards do Jazz, no que denota agilidade e acerto. A confirmar, no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo.

 

Leonel Santos